viernes, febrero 20, 2009
Golpe de americano dói na Venezuela
Golpe de americano dói na Venezuela
John Lyons
The Wall Street Journal, de Caracas
Centenas de clientes ansiosos se enfileiraram em frente do Stanford Financial aqui na capital venezuelana para sacar suas economias depois que a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos acusou o dono do banco de "fraude em massa", realçando um aspecto pouco conhecido do suposto golpe: a maioria das vítimas é da América Latina.
Venezuelanos compraram cerca de US$ 3 bilhões do suposto esquema de US$ 8 bilhões de certificados de depósito falsos, disseram, ontem, autoridades venezuelanas. Latino-americanos compraram perto de 75% dos CDs em escritórios na Venezuela, México e Equador, além de Miami, segundo uma pessoa familiarizada com as operações de Stanford.
Numa região há tempos acostumada com desvalorizações de moedas e colapsos de bancos, muitos viram os investimentos nos negócios de Stanford como uma forma de proteger suas economias em contas em dólar em Antígua e no Panamá. Isso é especialmente verdadeiro no caso da Venezuela, em que a expectativa de desvalorização da moeda fez com que milhares procurassem investimentos seguros.
"Todo mundo dizia que a desvalorização estava a caminho e, por isso, você não confia no seu país nem nos seus bancos", disse Mary Guevara, de 56 anos, que esperava na fila para tentar sacar US$ 56.000 — toda a poupança que possui — em Caracas ontem. "A intenção foi me proteger. Mas acho que não se pode confiar em ninguém."
Em toda a região, autoridades estão começando a investigar o caso. Ontem, a Colômbia proibiu corretores da divisão local do Stanford de negociar na bolsa de valores. No Panamá, autoridades fizeram uma intervenção na unidade local. Num esforço claro para evitar uma corrida a bancos, autoridades da Venezuela disseram que um banco comercial local — com agências em todo o país — de propriedade do grupo Stanford continuava sólido.
O investidor Stanford começou a operar na Venezuela 15 anos atrás, vendendo contas offshore para a classe mais rica. Stanford chegou a viajar de jato privado para o resort venezuelano Los Roques, a fim de pegar assinaturas de contratos de seus maiores clientes — homens de negócios com patrimônio ao redor de US$ 1 bilhão —, disseram pessoas a par da operação.
Há quatro anos Standord redobrou os esforços para conquistar clientes na Venezuela. O boom do petróleo deu origem a uma nova geração de milionários sedentos por colocar suas fortunas fora do país. Ao mesmo tempo, Stanford atraiu um mercado crescente de poupadores de classe média temerosos de que as políticas do presidente Hugo Chávez levassem o país à ruína econômica.
Para tanto, Stanford abriu um banco comercial com operações em moeda local, chamado Stanford, que funcionava como um alimentador das operações internacionais. Ele também lançou uma campanha publicitária numa das maiores redes de televisão e comprou um prédio comercial no bairro nobre de El Rosal. Figuras de destaque do país, como o ex-diretor-presidente da petrolífera estatal PDVSA Luis Giusti, entraram para o conselho financeiro das operações locais. Giusti não retornou emails solicitando comentários.
Stanford também contratou ex-funcionários do governo dos EUA, como Peter Romero, ex-membro do alto escalão do Departamento de Estado para a América Latina, para o conselho de administração do Stanford Financial Group.
Os negócios de Stanford na Venezuela passaram por situações difíceis. Quatro anos atrás ele se envolveu numa disputa legal sobre fraude de impostos com o ex-diretor da unidade da Venezuela e o demitiu. Como parte da disputa, Romero fez contato com funcionários da embaixada americana em Caracas e pediu que o visto para os EUA do executivo demitido fosse revogado, disseram autoridades americanas. O pedido foi negado, disseram elas.
Romero não retornou telefonemas pedindo entrevistas. A disputa sobre impostos foi resolvida fora dos tribunais, ano passado.
Antes mesmo que os EUA acusassem Stanford de fraude, já havia sinais de que algo estava errado. Quatro anos depois da compra de um prédio grande com o logo do grupo no topo, o edifício continuava praticamente vazio. Dezenas de andares estavam desocupados, informou o Stanford Financial Group, segundo o qual o edifício foi vendido em fins do ano passado.
Agora, investidores como Mary Guevara se agarram à esperança de que podem conseguir de volta parte de suas economias. Um operador do Standord havia dito a ela que os fundos depositados no banco eram garantidos pelo FDIC, a agência americana que garante depósitos bancários de até US$ 250.000, o que não é verdade.
"Isso é tudo que tenho", disse ela, com lágrimas nos olhos, enquanto aguardava na fila para falar com um funcionário do Stanford. "Sem esse dinheiro, vou acabar na rua."
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