sábado, marzo 14, 2009

Brasil y OBAMA


Por
Denise Chrispim Marin

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrará hoje na Casa Branca para o seu primeiro encontro com Barack Obama, presidente dos Estados Unidos há 53 dias, convencido de que pode mudar a visão de Washington sobre a América Latina. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, antecipou que o Brasil não tem a pretensão de "orientar" os EUA nem de carregar esse diálogo de "amigo" com doses de paternalismo.

"Nós temos algo a dizer e acho que o presidente Obama terá interesse em ouvir", afirmou Amorim, em entrevista ao Estado na última quinta-feira, no Itamaraty. "De qualquer forma, seria absurdo pensar em uma postura paternalista por parte do Brasil."

No contexto latino-americano, Cuba estará "inevitavelmente" presente nas conversas entre os dois presidentes. A intenção do Brasil em promover a aproximação entre a América do Sul e América Central e Caribe, em um novo mecanismo regional que incluiria Cuba, ficará sintomaticamente fora da agenda. Os Estados Unidos estarão excluídos desse diálogo, assim como o Canadá. "Não temos de pedir licença para ninguém para fazer isso."

Dois dias antes do encontro entre os presidentes, Amorim preferiu adotar um tom mais ameno sobre a ausência de sinais efetivos da nova administração americana sobre a retomada das negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Raro campo que avançou na cooperação Brasil-Estados Unidos nos seis anos de governo Lula, a questão energética deverá centralizar um novo apelo brasileiro pela redução das barreiras americanas ao etanol. "Quem sabe os EUA nos deem (essa abertura) depois de ouvirem nossos bons argumentos."A seguir, a entrevista:

Não é ousada demais a pretensão do presidente Lula de orientar o presidente Barack Obama para que veja a América Latina sob a "ótica correta"?

Vamos expressar a ótica que nos parece correta, com humildade e modéstia. Mas não temos, de modo algum, a pretensão de orientar. Podemos dar subsídios. Nós vivemos na região, o presidente Lula tem seis anos de mandato, já vimos muitos conflitos e disputas ocorrerem e serem bem encaminhados ou não. O que cabe a um país que tem independência, inclusive de pensamento, e uma relação de amizade? É dizer o que pensa e, quem sabe, contribuir para que o outro país veja a mesma situação sob outro ângulo. Nós temos algo a dizer e acho que o presidente Obama terá interesse em ouvir.

O senhor realmente acredita que presidente Obama seguirá essa linha?

O presidente Bush dizia seguir os conselhos ?do meu amigo Lula? quando não reagia às declarações do presidente Hugo Chávez. As reações públicas dele diminuíram, de fato. Isso não quis dizer que, naquela época, as ações e reações dos EUA à Venezuela mudaram. Mas, de qualquer forma, seria absurdo pensar em uma postura paternalista por parte do Brasil.

Por que é importante para o Brasil tocar na questão de Cuba, mesmo sem procuração de Havana?

Dentre os temas prováveis da conversa entre os presidentes está a América Latina. Nesse contexto, acho que é natural que o tema de Cuba surja. O tema é inevitável. Cuba tem um papel muito forte na percepção de que a América Latina e o Caribe têm da política americana para a região. Isso não quer dizer que o presidente Lula tenha uma procuração para falar em nome de Cuba. Nem eu digo que isso deveria ocorrer. Mas é impossível falar nas relações hemisféricas sem tocar em Cuba.

Em 2008, o Itamaraty concentrou esforços para trazer de volta Cuba ao sistema interamericano. O país foi incorporado ao Grupo do Rio e participou da Cúpula da América Latina e Caribe (CALC), em dezembro passado. A reinserção de Cuba ao sistema interamericano passa pelo aval dos EUA?

O presidente cubano, Raúl Castro, falou publicamente na reunião da CALC que Cuba não tem interesse em entrar na Organização dos Estados Americanos (OEA). Não caberia a nós advogar uma coisa que não interessa a Cuba. Mas existe uma resolução do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (Tiar), de 1962, que resultou na suspensão de Cuba da OEA. Essa resolução está obsoleta. Independentemente do que Cuba queira ou não, para benefício da OEA seria útil que essa resolução fosse desativada.

Como pode ser tratado o interesse do Brasil na criação de uma espécie de OEA com Cuba, mas sem EUA nem Canadá?

Não temos de pedir licença para ninguém para fazer isso. Mas esse será um processo longo de convergência de dois movimentos da região. Fizemos a Cúpula da América Latina e Caribe (CALC), em função do desejo de muitos países da América Central e do Caribe de maior aproximação com a América do Sul. Ao mesmo tempo, temos o Grupo do Rio há 23 anos. Embora não se trate de uma organização propriamente dita, esse mecanismo está em expansão, com a adesão de Cuba e de países caribenhos. Não sei ainda se a confluência desses dois processos se dará com a criação de uma nova organização ou se será um processo informal. Vamos deixar o tempo rolar e, enquanto isso, nos concentrar na União de Nações Sul-Americanas (Unasul). Queremos mostrar que não estamos fechados nem excluindo o restante da América Latina e Caribe quando trabalhamos pela consolidação da Unasul. A CALC serviu para isso. Vamos ver como evolui. Não se controla a história, apenas se dão uns ?empurrõezinhos?.

Como atacar o protecionismo e defender a retomada da Rodada Doha diante de Obama, quando não houve nenhum sinal dos EUA de que resistirá ao protecionismo e apoiará a Rodada?

Não se podem esperar sinais da nova administração quando não há um porta-voz para esse tema. O porta-voz para o tema, até agora, é o próprio presidente Obama.

Isso não é, por si, expressivo sobre a posição americana?

Cada país tem seu processo. No meu encontro com a secretária de Estado (Hillary Clinton), eu disse que a administração deveria dar prioridade à confirmação do representante dos Estados Unidos para o Comércio (USTR) pelo Senado. Ela concordou. Não é que a administração Obama não deu prioridade a esse tema. Houve também mudança nos indicados para o USTR. Eu não poderia tirar daí um sinal. O sinal que temos é o da conversa entre os presidentes, por telefone. O presidente Obama falou na necessidade de concluir a Rodada Doha. Agora, como vai ser essa conclusão é outra coisa. O momento é de reacomodação.

Embora a cooperação Brasil-Estados Unidos na área energética tenha sido uma das poucas a avançar, não há sinal de abertura do mercado americano ao etanol brasileiro. Como lidar com essa proteção que ainda resiste?

Já que os EUA querem uma energia renovável e limpa, por suas preocupações com a diversificação da matriz energética e com a mudança climática, temos uma boa receita: reduzir as barreiras ao etanol brasileiro. Até agora, eles realmente não deram nenhum sinal. Quem sabe os EUA nos deem (essa abertura) depois de ouvirem nossos bons argumentos.

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