miércoles, julio 30, 2008

Una entrevista con Cristovam Buarque (BRASIL)


Jornal de Brasília - 27/07/2008

O senador Cristovam Buarque (PDT), que sonha em se dedicar em tempo integral à Universidade de Brasilia, não descarta voltar a se candidatar a presidente da República. Assim como também pode tentar uma reeleição ao Senado e, por último, voltar ao Governo do Distrito Federal. Tudo dependerá das alianças construídas até 2010.

Apesar de fazer algumas críticas à gestão do governador José Roberto Arruda, não se opõe à uma possível aliança com o DEM. Contudo, deixa claro que, por uma questão de "credibilidade com a opinião pública", está fora de cogitação se aliar ao ex-governador Joaquim Roriz. Cristovam, que foi demitido por Lula do cargo de ministro da Educação por telefone, em 2004, diz que não guarda mágoas do PT e afirma que se sente realizado com os projetos na área da Educação que vem conseguindo aprovar em 2008. Ele nega que tenha saído do PT por causa do escândalo do mensalão. "O PT saiu do PT", resume.

O que significa objetivamente na educação o possível aumento do piso salarial dos professores?

O que é importante do piso é o fato dele ser nacional. O professor vai se sentir brasileiro pela primeira vez. O passo seguinte vai ser uma carreira nacional do professor. Além disso, o valor de R$ 950, que ainda acho pouquíssimo, já vai atender entre 800 mil e 1,5 milhão de professores com aumento salarial.

O senhor teve uma outra grande vitória quando conseguiu aprovar o projeto que obriga as escolas públicas a disponibilizarem vagas para crianças a partir de quatro anos. O senhor começa a colher os frutos na melhoria da educação brasileira?

Eu acho que sim. Esse projeto eu dei entrada pela primeira vez na Casa Civil quando era ministro. Naquela época, por alguma razão, o governo preferiu não dar entrada no projeto. Então, eu voltei para o Senado e comecei a dar entrada nos projetos. Esses são dois de quase cem projetos.

Se a Câmara aprovar o projeto que acaba com a incidência da Desvinculação de Receitas da União (DRU) na educação até 2011, qual vai ser o impacto desses 20% a mais que serão investidos na área?

Já no primeiro ano R$ 1,5 bilhão. Depois, vai subindo até que, em quatro anos, deve chegar a R$ 4,5 bilhões ou mesmo R$ 7 bilhões, se a gente leva em conta o aumento da arrecadação. Isso significa quase que dobrar o dinheiro que o governo aplica na educação.

"Se me perguntar qual é o cargo que eu gostaria de disputar em 2010 seria o de presidente da República. A segunda opção seria o Senado"

O senhor acredita que o projeto que suspende os sigilos bancário e fiscal de quem ocupa cargos eletivos, de comissão ou confiança pode ser aprovado?

Eu espero que sim. Era para ter sido aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, mas, infelizmente, o senador Aloísio Mercadante (PT-SP) pediu vistas do projeto. Uma pena. Mas eu acho que há clima para aprovar.

Mas seria um tiro no pé de parlamentares.
Eu acredito que de um certo número. Mas, ainda acho que a maior parte dos parlamentares não têm receio de abrir seu sigilo. Acho que é uma minoria que tem medo de abrir seu sigilo. Minoria que deve alguma coisa.

E sobre as eleições de 2010, nós já podemos falar de uma dobradinha entre o senhor e o recém-filiado ao PT, Agnelo Queiroz?

Não é impossível porque o PDT ainda é um partido pequeno no DF. Não vai ter mais a lei de verticalização. Então, mesmo que haja candidato a presidente do PDT, poderão haver alianças locais. Hoje, não tem porque descartar, também, uma aliança com o governador Arruda. O que acho impossível, e o povo não entenderia, seria uma aliança com o bloco de Roriz. Já não é mais por preconceito, que já foram todos quebrados. Mas, por uma questão de credibilidade com a opinião pública. Mas eu não nego que a vocação do PDT se afina com os partidos do bloco de esquerda.

O senhor é favorável ao apoio do seu partido ao governo Arruda?

Nós estamos no governo Arruda, embora de maneira muito marginal. Não apenas por participação em cargos, porque para mim isso não é o fundamental, mas, sobretudo, por participação na formulação das políticas. Por exemplo, o PDT nunca foi ouvido sobre a política de saúde. Mesmo na educação, que eu sugeri, mas terminou sem ser aceito, era a implantação do horário integral por cidades.

Estamos na tangente do governo Arruda e defendo isso, pelo menos, até o dia 23 de agosto, quando vamos fazer uma avaliação das políticas, dos resultados e da relação do PDT com o governo Arruda.

O senhor pode fazer uma avaliação do atual governo do DF?

É um governo que tem pontos positivos. Por exemplo, a defesa da legalidade da ocupação do solo, que é uma coisa que eu sempre lutei. Mas, nesse período todo, faltou ainda dar um salto na saúde, por exemplo.

Voltando às eleições de 2010, muitos petistas não descartam uma aliança com o PMDB. Como o senhor vê essa possível união?

Eu creio que essa união pode inviabilizar a relação do PT com o PDT. Volto a insistir. O que para a opinião pública parece estranho, sempre é de fato estranho.E certas alianças parecem estranhas.

O senhor ainda pode se candidatar à presidência da República?

Se o PDT quiser eu estou pronto para me candidatar à presidência da República. Se me perguntar qual é o cargo que eu gostaria de disputar em 2010 seria o de presidente da República. Não tenho a ilusão de que o PDT e eu ganharíamos, embora muita coisa possa acontecer. Mas nós marcaríamos, definitivamente, uma posição na história desse País na defesa da revolução da educação.

Como nas últimas eleições?

Na campanha de 2006, mesmo com apenas 2,5%, acho que já deixamos uma marca. A educação passou a ser um tema. Com uma nova candidatura eu acho que teria bem mais de 2,5%, mesmo que não chegasse ao segundo turno. E aí, não só deixaria a marca no programa, mas também, ajudaria muito a decidir para onde iria o segundo turno.

No caso do partido não optar por uma candidatura à presidência, o natural seria o senhor sair candidato a governador ou senador?

Na verdade o mais natural para quem vai concluir o mandato com 66 anos era voltar a se dedicar em tempo integral à Universidade de Brasília. Porque aos 66 anos, talvez seja a hora de deixar para os jovens e, também, de realizar alguns sonhos pessoais. Não sou daqueles que acham que político deve morrer no mandato. Eu quero escrever muito e ainda tenho muitos livros para ler. Mas, a outra opção que eu teria, em ordem, seria ser candidato ao Senado outra vez. Se isso não for possível, seria ser candidato a governador, se isso for importante para atender ao anseio de uma parcela da população do Distrito Federal, que quer dar um voto de esquerda.

O senhor tem mágoas do PT e do presidente Lula, devido a forma como ocorreu sua saída do Ministério?

Não. Mágoa a gente pode ter de mulher, namorada, mas não com companheiro.
No caso do Lula, apesar de ter sido demitido daquela forma, quando as coisas estavam começando a acontecer, e que foi muito ruim para o meu projeto de querer ficar na história do Brasil como o ministro que ajudou o presidente a erradicar o analfabetismo, deixou um descontentamento, que não é mágoa. Eu devo ao Lula ter sido ministro. Não posso reclamar por ter sido demitido, ele tinha todo o direito. Quanto ao PT, também não tenho mágoa. Lamento que ele tenha perdido o vigor transformador e tenha se transformado num partido que dá importância exagerada à institucionalização e aos cargos, que é coisa dos partidos mais tradicionais.

Se não há mágoa, por que saiu PT?

Muita gente acha que saí por causa de mensalão, de pessoas que fizeram coisa errada. Isso não, porque foram algumas pessoas do PT. O PT é um partido de gente honesta, na imensa maioria. Saí porque o PT perdeu o vigor transformador.
Uma certa relação de amor eu nunca perdi com o PT. Eu sempre digo que o PT nunca conseguiu sair de mim. O PT saiu do PT. Mas, ainda está em tempo do PT voltar a ser petista.

E as relações na política local, como andam?

Duas coisas eu vou dizer. Uma é o fato de que os grandes - PT, Roriz e Arruda - estão desprezando os pequenos. É como se a gente não existisse e não tivesse força. Segundo, começam a acontecer muitas conversas com o PT e com o Arruda. Essas conversas podem servir para que eles descubram que, mesmo não sendo grandes, temos força. Eu tenho certeza de uma coisa: nenhum partido se elege para cargo majoritário sem o apoio do PDT, do PPS, do PCdoB, do PSB.
Sem nós quatro, Arruda não se reelege se apoiarmos o PT. Se formos para o lado do Arruda, com toque de esquerda, o PT não elege seu candidato.

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