sábado, diciembre 01, 2007

Por que Chávez?



Por que Chávez?
Artigo publicado no jornal O Globo,
no dia 24/11/2007

Cristovam Buarque *
  • El Blog de Cristovam


  • Talvez nenhum outro líder político latino-americano tenha recebido tanta atenção de jornalistas e de políticos brasileiros quanto o presidente Chávez. As análises e críticas são sempre sobre "o que é" e "como age Chávez". Ninguém pergunta "por que Chávez?" - o que levou a Venezuela, depois de 50 anos de democracia, a optar, por meio do voto, eleição após eleição, por um governo com características autocratas. A resposta é simples: Chávez é o produto da insensibilidade da elite e da desmoralização da política.

    Durante os 50 anos de sua democracia, a Venezuela teve dois partidos se sucediam, sem

    nada mudar, exceto o nome do Presidente. Uma falsa alternância do poder. Por todo esse tempo, o país exportou petróleo e teve recursos para financiar o luxo e a sofisticação do consumo de uma minoria rica. Muito pouco foi usado para atender às necessidades da população pobre, ou para investir em um projeto estratégico de desenvolvimento. O resultado foi um país dividido por uma apartação social, o total estranhamento entre incluídos e excluídos, que se vêem como se fossem partes separadas de um mesmo país, e não componentes de uma mesma nação.

    O Brasil se comporta hoje como a Venezuela de anos atrás. A eleição de Lula já foi o resultado da histórica insensibilidade da elite e da desmoralização da política. Ele representava o novo, dizia que o Congresso era composto por 300 picaretas; liderava um partido que era símbolo da luta contra a corrupção e da esperança de uma nova política nacional, que transformaria a sociedade em benefício da emancipação das camadas pobres. É verdade que, no poder, Lula não se comportou como Chávez: em vez de dividir o país, fez uma coesão política entre pobres e ricos. Mas não criou as condições para a unidade social, para a formação de uma nação. Em vez de mudar a sociedade, tomou medidas que acomodaram o povo e os partidos. Adotou uma forma de fazer política idêntica à que antes criticava. A coesão política veio do compromisso com a manutenção do status quo em todas as áreas, e da concessão de programas assistenciais para as camadas pobres.

    O resultado é que o Brasil de hoje é a Venezuela de antes de Chávez, com o agravante da perda da esperança no governo Lula. A democracia vai aos poucos sendo corroída pela desmoralização dos políticos, pela insensibilidade das elites dirigentes, pelo cinismo da comemoração pelos pequenos avanços, pela aceitação de que a corrupção é natural e generalizada. Somos um caldeirão de frustrações fabricando uma alternativa autocrática.

    Apesar de criticar Chávez, o Congresso brasileiro colabora sistematicamente para fabricar o chavismo no Brasil. Com o aumento do salário dos parlamentares, os acordos para salvar colegas condenados pela opinião pública, a mudança de posições que depende de estar no governo ou na oposição, o aumento de impostos repudiado pelos contribuintes, os fracos resultados no enfrentamento dos problemas da população. Nem aqueles que criticam Chávez sentem saudades dos partidos e dos políticos de antes.

    Os juízes passam a idéia de estar mais preocupados com o aumento dos seus salários do que em fazer justiça, e permitem a vergonhosa impunidade dos ricos. Colaboram para formar o desejo popular de um líder autoritário. Na Venezuela, mesmo aqueles que se horrorizam com o controle da justiça afirmam que a justiça anterior não merecia sobreviver.

    A imprensa, apesar de denunciar constantemente a corrupção, se concentra no debate superficial, generaliza a crítica a todo político, desmoraliza a classe política - e junto com ela, a democracia -, ignora propostas alternativas para um Brasil sem apartação. Critica os erros, mas não denuncia as causas.

    É como nas tragédias gregas. Ninguém quer o resultado trágico do autoritarismo. Mas como atores, estamos todos - Congresso, justiça, imprensa - fazendo a nossa parte para que o Brasil seja uma fábrica de autocratas, produtos da insensibilidade da elite e da desmoralização da política.
    * Professor da Universidade de Brasília, Senador pelo PDT / DF.

    1 comentario:

    marcustur dijo...

    Lula faz exatamente o mesmo que Chavez, conquista a popularidade através de um assistencialismo maquiado que faz de milhões de pessoas reféns de uma esmola do governo para sobreviver. A diferença e por consiguinte a sorte do Brasil é que temos instituições mais sólidas, uma justiça imparcial e um congresso multipartidário. Isso Chavez tem nas mãos, por sua vez Lula tem a massa popular, os sindicatos, os estudantes, que são os bravos que vão para as ruas em Caracas, por isso com a "calmaria da população brasileira" vivemos uma espécie de conto de mágica, inclusive com a manutenção de impostos estratosféricos que recebe até o apoio do nobre Senador Cristovam Buarque.