Cambio de Chávez ante FARC se debe a laptops
05/06/2008
Novos dados de computador das Farc mostram como Hugo Chávez cortejou a guerrilha
Eles o chamavam de "Anjo". Ele era a o mais alto contato fora da organização guerrilheira colombiana Farc. Cada vez mais detalhes estão emergindo que demonstram o relacionamento próximo entre o presidente venezuelano Hugo Chávez com os terroristas da floresta
De Jens Glusing
Ele já tinha uma foto dele mesmo posando com o general e herói revolucionário vietnamita Vo Nguyen Giap, e planejava sugerir ao líder cubano Fidel Castro que usasse seu uniforme de combate novamente para uma foto conjunta, disse o "Anjo" ao comandante das Farc Ivan Marquez. Só estava faltando para sua coleção, disse, uma foto com o "J.E.".
"Anjo" era o codinome das Farc para o presidente venezuelano Hugo Chávez e "J.E." era Manuel Marulanda, ou "Tirofijo" ("tiro certeiro"), legendário líder da mais antiga organização guerrilheira da América Latina. Entretanto, o encontro que Chávez aparentemente queria nunca ocorreu.
Marulanda está morto, segundo confirmou o comandante das Farc "Timochenko", há dois finais de semana. As Farc alegam que ele morreu de ataque cardíaco, mas o governo colombiano acredita que o líder guerrilheiro foi morto em um ataque militar e ofereceu uma recompensa pelo corpo.
A morte de seu líder é a mais recente em uma série de inúmeros golpes contra às Farc. No início de março, o exército colombiano matou Raul Reyes, segundo no comando do grupo, em um ataque aéreo. Poucos dias depois, Ivan Rios, um comandante, foi morto por um guarda-costas em busca da recompensa oferecida pelo líder da guerrilha. Finalmente, há duas semanas, "Karina", uma das mais brutais e respeitadas guerrilheiras das Farc, entregou-se às autoridades. Acredita-se que ela foi responsável pelo assassinato do pai do presidente colombiano Álvaro Uribe. Essa série de contratempos alimentou especulações que toda a organização guerrilheira está prestes a se render.
Os rebeldes estão mais dependentes do que nunca de seu anjo guardião, Hugo Chávez. Mas Chávez está mantendo-se discreto. Após a morte de Reyes, ele exortou o Congresso venezuelano a observar um minuto de silêncio e até enviou tropas à fronteira colombiana em uma tentativa de intimidar o vizinho e da Venezuela. Entretanto, ele não fez comentários, ao menos inicialmente, em relação à morte de Marulanda. Na reunião de cúpula da União Européia e América Latina no Peru, há duas semanas, o "Anjo" procurou-se retratar como homem de paz.
Contra a parede, Chávez está tentando agradar aos colegas novamente. Entretanto, centenas de mensagens eletrônicas nos computadores de Reyes, muitas das quais obtidas pelo "Spiegel", o expõem como cúmplice da organização guerrilheira terrorista. Washington já expressou sua "preocupação" diante da aliança de Chávez com o grupo rebelde, considerado organização terrorista tanto nos EUA quanto na União Européia. O candidato presidencial democrata Barack Obama também pediu que a Venezuela justificasse seu apoio às Farc.
Novos detalhes estão surgindo constantemente dos computadores de Reyes; menos da metade das informações foram avaliadas até agora. Uma coisa está clara: o comandante barbudo era o guardião das portas do grupo. "Todos os contatos com Marulanda passavam por Reyes", disse o especialista em segurança colombiano.
O líder guerrilheiro direcionava drogas e armas de seu campo no Equador. Ele negociou diretamente com um associado do famoso traficante Juan Carlos Ramírez Abadía, chamado "Chupeta", preso no Brasil, em São Paulo, em agosto de 2007. De acordo com um e-mail que Reyes escreveu aos chefes em agosto, Chupeta embolsa US$ 15.000 (cerca de R$ 30.000) por quilo de cocaína contrabandeada para Europa, onde o preço de mercado é de US$ 30.000 por quilo. "Se as Farc decidirem entrar no negócio, podem fornecer o quanto quiserem: 5 10, 50, 100 ou mais", continuava o e-mail. Reyes estava se referindo a quilos.
Os especialistas estimam que ao menos um terço de toda a cocaína da Colômbia é contrabandeada para a Europa e os EUA pela Venezuela, com as autoridades aparentemente se mantendo cegas às atividades. De acordo com as fontes do governo em Bogotá, soldados da Colômbia em uma base militar na fronteira observam diariamente dezenas de aviões transportando drogas na vizinha Venezuela.
Além disso, Chávez aparentemente forneceu documentos venezuelanos a milhares de colombianos, inclusive muitos guerrilheiros. As agências de inteligência temem que altos membros da ação Farc também tenham viajado para a Alemanha usando passaportes venezuelanos -turistas venezuelanos têm tratamento mais relaxado no país do que os colombianos.
Chávez também aparentemente ajudou os rebeldes das Farc a obterem armas colocando-os em contato com dois contrabandistas de armas australianos. Seus agentes de inteligência prometeram às Farc que dariam peças para a construção de mísseis terra-ar. Em um e-mail para Reyes, no dia 1º de março de 2007, o comandante das Farc Timochenko escreveu que os venezuelanos garantiriam a viagem para um de seus homens para o Oriente Médio, "para que ele possa fazer um curso no uso dos mísseis". A compra dos sistemas de armas completos "é muito complicada, por causa das inspeções", escreveu Timochenko.
Aparentemente, Reyes sentia-se seguro no Equador. A maior parte da correspondência não estava codificada; apenas algumas codificadas por uma "camarada Tânia" em Caracas. Não seria pouco razoável assumir que seu escritório não ficava longe do palácio de Miraflores, que abriga o escritório do presidente venezuelano. O comandante das Farc, Ivan Marquez, quem os agentes de inteligência colombianos acreditam estar morando na Venezuela, aparentemente era visitante freqüente do escritório de Chávez. De fato, a Venezuela parece ter tido um papel crucial no "plano estratégico" do grupo guerrilheiro. Auto-proclamado líder da "Revolução Bolivariana", o ambicioso Chávez está secretamente armando a Venezuela para uma guerra assimétrica contra os EUA -uma estratégia que se parece com a guerrilha que as Farc vêm travando há décadas.
Chávez conferiu a tarefa de administrar as comunicações com as Farc ao ministro do interior Ramón Rodríguez Chacín e ao general Hugo Carvajal, diretor da inteligência militar venezuelano. Rodríguez Chacín, proprietário de uma fazenda na fronteira com a Colômbia, era convidado freqüente nos campos das Farc na Venezuela.
O ministro do interior -descrito pelas Farc como "um verdadeiro mau humorado"- aparentemente ficou tão impressionado com os guerrilheiros que pediu sua assistência para o treinamento das milícias venezuelanas.
"Rodríguez Chacín perguntou sobre formas nas quais ele poderia compartilhar nosso conhecimento de guerrilha", escreveu Marquez no dia 14 de novembro de 2007, em um e-mail para Reyes. De acordo com a mensagem, os venezuelanos estavam buscando informações sobre "modos de operação, explosivos, acampamentos na floresta, preparação de emboscadas, logística e mobilidade... tudo o que seria exigido para reagir apropriadamente a uma invasão americana".
Chávez admirava Marulanda, fundador das Farc, e era "totalmente obcecado" com suas habilidades estratégicas, disse o agente de inteligência colombiano. O líder venezuelano teria oferecido a seu ídolo uma injeção financeira de US$ 300 milhões (cerca de R$ 600 milhões) -a quantia que Marulanda estimou que custaria para seu grupo tomar o controle do governo em Bogotá.
O líder guerrilheiro, que estava sem caixa como resultado da intensificação da campanha de combate às drogas do governo colombiano, precisava urgentemente do dinheiro. As mensagens eletrônicas, contudo, não indicam claramente se o pagamento foi feito de fato. Chávez nega. No entanto, Marulanda, Reyes e os comandantes das Farc trocaram dezenas de mensagens nas quais ele se referiam ao "dossiê" ou aos "300", código para a quantia.
De acordo com a mensagem enviada às Farc, o ministro do interior Rodríguez Chacín tinha preparado um pagamento inicial de US$ 50 milhões. "Um pássaro na mão vale mais do que dois voando", observou a velha raposa Marulanda. Ele também menciona o assunto em seu último e-mail, datado de 20 de novembro de 2007: "Precisamos esclarecer se este é um empréstimo ou uma doação por solidariedade... cria a impressão de que Chávez está interessado em contribuir para a causa das Farc para fortalecer seu projeto geopolítico em uma série de países."
Esse raciocínio levou Marulanda a emitir uma ordem clara para os comandantes da Farc, dizendo que deveriam manter "boas relações de vizinhança" com a Venezuela.
Tradução: Deborah Weinberg
LA FUENTE DE LA NOTICIA en la Revista Alemana:
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