domingo, noviembre 16, 2008

Oposição busca virada sobre Chávez

Oposição busca virada sobre Chávez

Após triunfo de dezembro, opositores tentam domingo se consolidar nas urnas como alternativa política viável

por
Ruth Costas

A contagem regressiva para qualquer eleição na Venezuela nos últimos anos tem sido marcada pelo ritmo das ameaças do presidente Hugo Chávez a opositores. Esta semana não deve ser diferente. Num clima polarizado, os venezuelanos preparam-se para ir às urnas no dia 23 para eleger os governadores de 22 Estados, 338 prefeitos e 233 parlamentares estaduais.

Chávez ameaça prender opositores e colocar as tropas nas ruas se perder no Estado de Carabobo. A oposição o acusa de usar a máquina estatal para fazer campanha. Até aí nada que não tenha sido visto antes. A grande novidade dessas eleições, dizem os analistas, é que, dessa vez, os grupos opositores têm a oportunidade de voltar a conquistar espaços dentro do Estado venezuelano.

"Os adversários de Chávez estão mais confiantes desde que venceram o referendo de dezembro, no qual foi rejeitado o projeto de Constituição que ampliava os poderes do presidente e lhe permitia reeleger-se indefinidamente", disse ao Estado Francine Jácome, do Instituto Venezuelano de Estudos Sociais.

Até essa ocasião, Chávez havia saído vitorioso de seis votações consecutivas. Entre elas, a eleição legislativa de 2005, que foi boicotada pela oposição, permitindo a formação de um Legislativo 100% chavista. "Os opositores podem brigar por ao menos uma fatia do poder, aproveitando o descontentamento com o governo por questões como a insegurança e a má gestão da economia - ainda mais evidente com a queda do preço do barril do petróleo", completa Francine.

Pesquisas recentes dão à oposição boas chances de conquistar de quatro a oito Estados - hoje ela só tem dois. Em pelo menos mais dois Estados há uma disputa acirrada entre chavistas e dissidentes e, nos restantes - a maioria - ,aliados de Chávez estão na frente. "Mas a vitória e a derrota serão definidas menos por uma questão numérica que pelo peso econômico e populacional dos Estados, ou seu valor simbólico", explica Luís Vicente León, do instituto de pesquisa Datanálisis.

Ele diz que candidatos da oposição estão bem colocados em Zulia, Carabobo, Miranda e no distrito de Caracas. Juntos, essas quatro regiões concentram mais de 50% da população do país, 80% da produção de petróleo, a maior parte da indústria e alguns dos principais canais de exportação e importação.

"Se conseguirem vencer nesses lugares, os opositores terão o desafio de implementar modelos de gestão diferentes, que possam ser uma alternativa ao modelo chavista", afirma o cientista político José Molina, da Universidade de Zulia. "Será um teste que pode ajudá-los a crescer na política nacional."

Mas e se as pesquisas não se confirmarem (o que não é raro na Venezuela) e aliados de Chávez vencerem na maior parte dos Estados e prefeituras-chave? Quem responde é Omar Noria, cientista político da Universidade Simón Bolívar, em Caracas: "O presidente está tentando fazer da eleição um plebiscito sobre seu governo", diz. "Se seu partido tiver uma vitória clara é possível que tente impor muitas das reformas rejeitadas no último referendo - como a reeleição ilimitada."

Também é preciso considerar que Chávez tem o apoio de uma grande parcela da população e, mesmo perdendo em regiões importantes, dificilmente reconhecerá qualquer avanço da oposição, segundo os analistas. Ele deve reivindicar uma vitória integral na votação com base na vantagem numérica.

Em um cenário tão decisivo, não é difícil entender por que o presidente passou os últimos meses visitando diversos Estados, numa estratégia de campanha que procura compensar as debilidades dos candidatos do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), ligando sua imagem à do presidente.

DISSIDENTES

Outra novidade marcante dessas eleições é o fortalecimento de dissidências no chavismo. No referendo de dezembro, alguns grupos que faziam parte da base governista haviam se oposto publicamente ao presidente. Nestas eleições, foram ainda mais longe ao apresentar candidatos próprios.

Talvez o caso mais emblemático seja Barinas, Estado natal de Chávez, onde sua família controla as principais engrenagem do poder. Para substituir o governador Hugo de los Reyes Chávez, seu pai, o presidente apontou seu irmão, Adán Chávez. Hoje, porém, ele está empatado nas pesquisas com Júlio César Reyes, o prefeito da capital, e até pouco tempo um aliado. "Aqui em Barinas muita gente continua a ser chavista porque apóia os projetos sociais do presidente, mas já está cansada do clã Chávez", resumiu um jornalista local.

León, do Datanálisis, explica que uma derrota de Adán no Estado teria um grande peso simbólico para o presidente. "É provável que o partido de Chávez perca em alguns Estados e cidades não porque o apoio ao presidente seja pequeno, mas por questões ligadas às realidades locais - já que em muitos lugares os candidatos do PSUV simplesmente não convenceram", diz o analista. "Porém, ao se esforçar para fazer dessa votação um plebiscito sobre sua gestão, Chávez também está abrindo uma porta para a oposição transformá-la em um golpe contra o governo caso vença em Estados importantes."

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