martes, diciembre 12, 2006

Reflexiones de Cristovam Buarque


Cristovam Buarque
  • El Blog de Buarque




  • A diferença entre coalizão e conchavo está no objetivo do acordo. Quando partidos se unem por uma Causa, é coalizão, quando se unem Sem Causa, é conchavo. A atual proposta do governo para unificar partidos de todas as direções, sem dizer o propósito de longo prazo deste acordo, é um caso nítido de conchavo. Os partidos que se unem nada têm em comum nos seus programas e na visão para o futuro do Brasil. Nos pontos genéricos apresentados pelo governo, não aparecem as palavras ¿pobreza¿, ¿desigualdade¿, ¿educação¿, ¿violência¿, ¿corrupção¿, ¿eficiência¿, ¿competitividade¿, ¿Brasil¿, ¿futuro¿ etc... Como se não fossem assuntos relevantes. Ou como se as ¿reformas¿ institucionais propostas genericamente fossem suficientes para reorientar o futuro do País: trazer-lhe um novo rumo. Uma ¿coalizão neoclássica¿ no sentido de acreditar que, definidas as regras, o País mudará pelas forças do ¿mercado político¿.

    Se o presidente deseja uma coalizão, no lugar de um conchavo, deve ter claro que o concerto a ser feito deve ter por base objetivos concretos. Ao definir estes objetivos, alguns dos seus atuais apoiadores abandonarão o pacto e outros que ele vê como opositores poderiam se aproximar.

    O presidente ficaria surpreso com a coalizão que se formaria com base no cumprimento de seis objetivos que o Brasil precisa e o povo espera: ¿ética¿, ¿eficiência¿, ¿educação¿, ¿ecologia¿, ¿estabilidade¿ e ¿emprego¿. Mas isso exigiria uma postura radicalmente diferente do governo e do presidente: sair do imediatismo cômodo do conchavo para o desafio de uma coalizão de médio e longo prazo.

    Não é por esquecimento que o presidente não colocou compromisso concreto na defesa da ¿ética¿, é porque ele sabe que alguns dos seus apoiadores fugiriam do pacto. Não aceitariam definir corrupção como crime hediondo, reduzir à metade os cargos comissionados, implantar radical transparência nos gastos públicos.

    Não colocou ¿eficiência¿, porque tocaria em muitos interesses corporativos. De todos os lados, setor privado e público, capitalistas e trabalhadores, haveria resistência às medidas capazes de trazer eficiência ao funcionamento da economia e da sociedade. A reorientação dos gastos públicos, das despesas correntes para infra-estrutura, esbarraria nos interesses imediatos do corporativismo.

    Nem colocou um projeto radical para fazer a revolução na ¿educação¿. Exigir dos partidos da coalizão apoiar um programa para que todas as escolas funcionem em horário integral, com professores muito bem remunerados, desde que bem preparados e dedicados, com seus alunos aprendendo, com modernos equipamentos pedagógicos; além de erradicar o analfabetismo e fazer a refundação da nossa universidade. Isso não atrai apoio dos seus aliados, mas atrairia o apoio de outros partidos e políticos.

    A defesa da ¿ecologia¿ também seria um fator de divisão no conchavo, por causa do desprezo com que a maior parte de seus apoiadores trata o patrimônio natural do Brasil. Mas atrairia uma legião de jovens que tem o sentimento claro da necessidade ecológica, além de diversos líderes que defendem essa causa.

    Um grande programa de geração de ¿emprego¿, também seria um ponto para a coalizão. Mas um programa de emprego concreto sem a mentira de que o crescimento econômico, se vier, vai empregar. Porque além de pouco, o emprego será apenas para mão-de-obra qualificada.

    Finalmente, exigir o compromisso com a manutenção da estabilidade monetária afasta apoiadores desacostumados com austeridade, mas poderia atrair políticos sérios, ainda que de partidos na oposição.

    Mas a idéia do governo não parece ser coalizão pelo futuro, e sim conchavo com o passado. Isso é preocupante, por que além de pouco servir para concertar e consertar, poderá servir para ameaçar um outro objetivo que aparentemente ainda parece um consenso: a ¿democracia¿.

    *Artigo publicado no jornal O Globo de 9/12/2006.

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